Assine nossa Newsletter:
/apidata/imgcache/82f987f3939054a6d9fc18ca763064bf.jpeg

A escolha da coragem para estimular a vontade de viver

Diagnóstico de câncer faz publicitária escrever livro

Atualizado em 05/09/2025 às 17:09, por Jaqueline Falcão.

A escolha da coragem para estimular a vontade de viver


 

                                     Flora Singer*

Receber o diagnóstico de uma doença grave é como ver a vida parar de repente. O chão abre-se, o ar falta e, por alguns instantes, parece impossível acreditar que se trata de você. Foi assim comigo quando descobri que tinha câncer. Lembro das lágrimas que não cessavam, da dificuldade em encontrar palavras e da sensação de impotência diante de uma notícia tão dura.

Entretanto, foi nesse turbilhão que nasceu minha decisão: eu não seria vítima da doença. Eu escolheria a coragem. Não porque o temor tivesse desaparecido, pois estava presente em cada exame e noite maldormida, mas porque compreendi que a coragem não é ausência de medo. É a escolha consciente de seguir em frente apesar dele.

/apidata/imgcache/e5ff5b2b549de691f65cfc4748c4e6b4.jpeg

Essa decisão não é simples. O câncer não afeta apenas o corpo. Mexe também com a alma, a identidade, a rotina e a forma como enxergamos o tempo. De repente, tarefas banais tornam-se um peso e a solidão aparece mesmo quando estamos cercados de apoio. É uma travessia que exige resiliência, mas também acolhimento. Aprendi que aceitar ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim um gesto de amor-próprio e ao próximo.

Ao longo do tratamento, descobri que a vida pode ser reinventada mesmo em meio ao caos. O silêncio, que no início me sufocava, tornou-se espaço de autoconhecimento. A dor, que parecia insuportável, transformou-se em professora, ensinando a valorizar as pequenas coisas, a rever prioridades e a enxergar beleza onde antes passava despercebida.

/apidata/imgcache/c6815b5c82db5d4cfbba55beb5dced63.jpeg

Escrevi o livro A Escolha da Coragem porque acredito que compartilhar vulnerabilidades pode ser fonte de força para outras pessoas. Se minha história servir para que alguém, ao receber uma notícia ruim, encontre um fio de esperança, já terá valido a pena. Quero dizer a você que enfrenta uma doença grave: não está sozinho. Há um poder dentro de cada um de nós que, quando ativado pela vontade de viver, pode transformar o medo em movimento e a dor em caminho de cura.

Não romantizo o câncer. Ele provoca feridas físicas e emocionais, cicatrizes que carregamos para sempre. Mas, aprendi que cada marca também é um lembrete de que sobrevivi, de que renasci. Hoje, celebro não apenas o meu aniversário de nascimento, mas também a data da minha cirurgia, porque foi naquele que ganhei uma nova chance de viver.

Algo que aprendi na luta contra a doença é que o câncer não afeta apenas o corpo, pois interrompe sonhos, planos e rotinas. Porém, também nos convida a criar novos sonhos e a reinventar caminhos. Eu, que tantas vezes temi pelo futuro, aprendi a enxergar o presente como a dádiva mais valiosa. 

/apidata/imgcache/676934f3b347bb11ac29e12aa7bbf424.jpeg

Há dias nos quais a coragem resume-se a levantar da cama, a encarar um exame e a sorrir para os filhos mesmo com o coração apertado. E isso já basta. É preciso reconhecer que cada pequeno gesto e instante de esperança é parte da vitória. Por isso, hoje acredito muito que não existe dor que não possa ser transformada em aprendizado e que a vida, mesmo marcada por cicatrizes, pode ser jornada de intensidade, gratidão e amor.

A mensagem que desejo deixar é simples e profunda: viver é bom e vale a pena. Mesmo diante das piores notícias, é possível escolher reagir com fé e esperança. A doença pode nos desafiar, mas não precisa definir quem somos. Se você, leitor, está atravessando esse caminho difícil, respire fundo. Permita-se chorar, mas também acreditar. Um passo de cada vez, uma vitória de cada vez. Escolha a coragem e descubra que, apesar de tudo, a vida continua sendo uma dádiva extraordinária.

*Flora Singer é publicitária e pós-graduada em Administração pelo Insper.