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Sabia que existe o luto prolongado?

Especialista faz alerta dos sinais e quando buscar ajuda

Atualizado em 03/11/2025 às 09:11, por Jaqueline Falcão.

homem sentado no chão de cabeça baixa

É preciso ficar atento aos sinais do luto prolongado

Sabia que é importante refletir sobre o caminho que vai da saudade à dor persistente — e quando ela exige atenção profissional? Muitas pessoas não sabem, mas existe o chamado transtorno do luto prolongado, uma condição que atinge aproximadamente 10% das pessoas enlutadas, que não conseguem lidar com a nova realidade sem aquele que partiu.
 

Segundo a psicóloga e psicanalista Camila Grasseli, professora do Centro Universitário UniBH - integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima – o luto prolongado é aquele em que a pessoa praticamente morre junto com quem morreu. O isolamento e a angústia nesses casos podem se estender, sem alívio, por meses e até anos. “A pessoa deixa de tomar banho, de se alimentar, perde o emprego, se trabalhava. É um sofrimento que merece muita atenção.”
 

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Ainda de acordo com a especialista, não há um tempo ideal ou esperado para o luto. A fase vai depender da pessoa que o enlutado perdeu e da importância dela para os que ficaram. Perder um parente próximo, com o qual havia uma dependência afetiva ou social, terá impacto diferente de uma perda menos central — e isso injeta grande variabilidade no processo. “Às vezes você perdeu um pai, mas ele não era o arrimo da sua vida inteira. E isso faz toda diferença no tamanho desse luto”, explica.

Perdas intensas

Ela indica que lutos complicados são mais comuns quando há perdas muito intensas, como de filhos ou por situações traumáticas (acidente, suicídio) — em contraste com perdas esperadas de pessoas idosas ou com doenças que se arrastam por anos, rupturas para as quais costumamos nos preparar.

Como identificar o limiar entre “dor natural” e necessidade de ajuda?

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A professora do UniBH explica que aqueles em sofrimento por um luto prolongado deixam de cuidar de si mesmos. Perda de apetite acentuada, grande perda de peso ou negligência da higiene pessoal são alguns sinais que indicam alerta. “Antes dirigida à vida externa, a energia vital do enlutado fica mais interna. É como se ele fechasse sua janela para o mundo e concentrasse suas lembranças na pessoa perdida, não vendo mais graça em nenhum outro aspecto da vida. Todos nós passamos por esse processo. A diferença é que quem estende esse sentimento, não consegue retomar a vida. Fica com a presença daquele que se foi “embutido” no novo cotidiano.”

Quando buscar ajuda

Para a profissional, nem todo luto demanda intervenção, mas o apoio psicológico é fundamental quando os familiares e amigos percebem que o enlutado está “adoecendo”. “Se a rede de convivência observa que a pessoa não está mais se levantando da cama, por exemplo, trocando de roupa, tomando banho, um alerta precisa ser ativado”.

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A docente destaca que quando essas alterações físicas e comportamentais começam a comprometer o cotidiano ou somam risco de depressão, isolamento e pensamento suicida, abordagens terapêuticas com profissionais especializados são necessárias. “O que ajuda verdadeiramente é oferecer à pessoa espaço para falar da perda, das memórias, de quem era aquele ente querido, e principalmente do que aquele vínculo significava. Contrariamente ao que muitos acham (evitar falar para “não trazer tristeza”), é justamente o falar que permite a elaboração. O medicamento também vai calar esse luto, e o luto precisa ser dito, senão outras consequências físicas e doenças podem aparecer a partir daí.”